quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Ponte da Cambeia

Um pouco das suas estórias
A minha família 

A Ponte da Cambeia era, na minha infância, o centro de muita vida. Ali esperávamos os barcos mercantéis que traziam, das feiras de Aveiro e da Vista Alegre, as mercadorias adquiridas pelos gafanhões. Eram entregues ao barqueiro, com sinais identificativos, e na hora combinada, conforme a maré, eram esperadas pelos seus donos. Nesta ponte e noutros locais das Gafanhas. Quando havia atraso, os barqueiros deixavam-nas ali mesmo, na certeza de que não haveria ladrões. Cheguei a ver porquitos de patas atadas para não fugirem.
Na ponte, pudemos assistir a manobras arriscadas, em dias de temporal, com os homens do leme a orientarem as embarcações, com rigor, velas arriadas, para passarem sem perigo. Nadava-se, conversava-se, atiravam-se piadas aos barqueiros, com perguntas ingénuas e algumas vezes maldosas: «Quem é o macaco que vai ao leme?»
Recordo-me bem da pesca do safio e do polvo. Vara forte, com arame numa ponta. Preso tinha o anzol. Enfiava-se na toca onde se refugiavam e esperava-se que atacassem o isco. Depois, com força, puxava-se, puxava-se, que eles oferecia enorme resistência.
Com estas lembranças, como não hei de ter pena de a Ponte da Cambeia ter morrido sem glória?
Sei que não era uma ponte romana nem coisa que se parecesse. Mas era a nossa Ponte. Ponte do lugar da Cambeia, da Gafanha da Nazaré.

Fernando Martins

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Uma visita ao Lar Nossa Senhora da Nazaré

Ermelinda Garcez e Adelaide Calado 
são exemplo para todos nós

Ermelinda, Adelaide e Fernando Martins
Ermelinda Garcez e Adelaide Calado participaram e animaram a Eucaristia na sexta-feira, 25 de setembro, dia em que visitámos o Lar. Vimos como cantavam, como liam os textos sagrados e como distribuíam água aos participantes idosos ou doentes depois da comunhão, «porque alguns têm dificuldade em engolir a hóstia consagrada», disseram-nos. Depois encaminharam os utentes para as salas de convívio e respondiam às suas questões ou desejos, com palavras ternas para todos.
A celebração foi presidida pelo Padre João Sarrico, atual capelão do Lar Nossa Senhora da Nazaré e vigário paroquial das Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo. Depois da missa, foi distribuir a comunhão aos acamados e no final confidenciou-nos que gosta do trabalho que aceitou fazer, tal como gosta de estar e falar com as pessoas. «Toda a vida fui pároco», disse. E acrescentou que, com esta missão, «acaba por dar o seu próprio testemunho», reconhecendo que há utentes mais novos do que ele, embora doentes ou incapacitados.

domingo, 11 de outubro de 2015

Gafanha da Nazaré: Rua Júlio Dinis

Um primo do escritor tinha na GAFANHA 
uma elegante propriedade rural 

A homenagem ao escritor Júlio Dinis, de seu nome de baptismo Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), é mais do que justa. Autor de romances célebres, dos mais lidos da literatura portuguesa, bem compreendidos pelo povo, figura com propriedade na toponímia da Gafanha da Nazaré. E se soubermos que o romancista andou pela nossa terra e dela falou em termos encomiásticos, então mais naturalmente aceitaremos a razão por que o seu nome é lembrado a toda a hora pelo nosso povo e por quem nos visita. 
A Rua Júlio Dinis começa, podemos dizer, junto ao café Palmeira, quando se sai da Av. José Estêvão para o lado sul, serpenteando a Marinha Velha, até encontrar a Rua António Sardinha. Atravessa uma significativa parte daquele lugar da nossa terra, cujo nome herdou de uma velha marinha de sal que por ali existiu. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

D. António Marcelino e a comunicação social regional

Um homem inquieto e determinado,  
participativo e voluntarioso



«Convicto da importância dos meios de comunicação social na ação pastoral, propus-me entrar no "Correio do Vouga" e estabelecer com os leitores um encontro semanal. O jornal é um púlpito privilegiado. O bispo não pode esquecer nem dispensar esta tribuna. Do interesse concreto deste encontro, dirão os leitores.»

Com estas palavras, iniciou D. António Marcelino a sua colaboração no semanário diocesano em 13 de março de 1981, na qualidade de Bispo Coadjutor de D. Manuel de Almeida Trindade. Entrou na Diocese de Aveiro em 1 de fevereiro do mesmo ano, depois de ter sido Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa. Com a resignação de D. Manuel, passa a Bispo Residencial em 20 de janeiro de 1988. Agora, como Bispo Emérito, vai continuar entre nós, porque se sente aveirense de pleno direito, identificando-se com as alegrias e tristezas, sonhos e projetos da vida destas gentes do mar, ria e serra.
Um quarto de século depois da sua chegada à cidade dos canais, o observador atento não pode deixar de registar que foi altamente positiva aquela decisão do então Bispo Coadjutor. Desde essa altura, os seus escritos foram esperados semana a semana com curiosidade e com interesse. Com curiosidade, para se saber que temas iriam ser abordados; com interesse, por se pressentir que em todos haveria algo a aprender ou a refletir, sobre o quotidiano do povo e das comunidades.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Carros de bois puxados por homens

Construção da igreja matriz 
da Gafanha da Nazaré

«A capela que servia toda a Gafanha e que se situava no lugar da Chave era muito pequena pois tinha somente uns 20 metros de comprimento por oito de largura. Muito antes das missas já ela se encontrava repleta e o senhor prior, algumas vezes, tinha dificuldades em passar para abrir a porta.
O povo da Marinha Velha era o mais sacrificado pois, no inverno, tinha de passar maus caminhos. Mas posso dizer-lhe que o temporal não impedia que todos comparecessem. O povo de há 50 anos [com referência ao ano da entrevista] cumpria escrupulosamente os seus deveres religiosos e ainda me lembro de ver homens a caminho da igreja, descalços, de calças arregaçadas e de gabão pelos ombros.
Foi na Marinha Velha que nasceu a ideia da nova igreja e lá se formou a comissão que ficou assim constituída: António Ribau, Manuel Joaquim Ribau, Manuel José Ribau, João Maria Casqueira, João Pata Novo e António Pata. O terreno foi oferecido pelos senhores António Ribau e João Maria Casqueira.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Prior Sardo, fundador e “rei”

Padre João Ferreira Sardo

“Em artigo publicado em "O Ilhavense", no dia 1 de Dezembro de 1958, o Padre Resende afirma que o Prior Sardo «dava ordens e directrizes em que era obedecido sem restrições ou quaisquer objecções, criando por esta forma ambiente favorável à criação da freguesia, que ele desde há muito trazia em mente». Noutro passo do seu artigo, garante que o Prior Sardo era considerado «o rei daquelas terras», sendo o primeiro a entender, «diante de Deus e dos homens, que devia interferir oportunamente com a sua autorizada acção e eficaz campanha na independência desejada». Assim, «reconheceu a necessidade de ingressar nos segredos da política dominante e agir dentro dela, como era costume, naqueles tempos, qualquer entidade que solicitasse uma mercê»”.


Fernando Martins 
in “Gafanha da Nazaré, 100 anos de vida”, 
pág, 80-81

Nota: Excerto de um texto publicado no "Correio do Vouga" em 8 de setembro de 2010

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Búzio



«Tão pobrezinha [a primeira capela] que estava desprovida de torre, ou simples campanário, e de sinos.
Sem campanário, sem sinos… Como remediar a falta? Como convocar os fiéis para a santa Missa, para o exercício do culto divino?
Tem o seu quê de regional e de poético a maneira como remediaram a falta e como convocavam os fiéis ao templo. No dealbar do dia, ou à tarde ao mergulhar suave e majestoso do sol nas águas do Oceano, conforme a convocação se fizesse para o Santo Sacrifício ou para as orações da manhã ou da noite, um repolhudo gafanhão, improvisado de sacrista, dirigia-se para o templozinho cheio de misticismo, descalço, de cuecas a cair sobre a rótula, cingidas pelo cós com um só botão às ancas espadaúdas. De barrete pendente sobre as orelhas, contas ao pescoço sobre a baeta da camisola, e de gabão velho, esburacado, deixava fustigar pelo vento da madrugada as canelas magras e nuas.

Pela Positiva

Correio do Vouga, 9 de janeiro de 2008



 http//www.pela-positiva.blogspot.com


Para iniciar esta rubrica na parte dos blogs, não poderia deixar de vos presentear com um dos melhores blogs escrito por Aveirenses. É um projecto muito interessante e deveras tentador, no sentido de que nos obriga a passar por lá todos os dias, dada a sua actualização permanente com conteúdos abrangentes e escritos pela “mão” do autor, não se limitando a copiar textos que encontra pela blogosfera, sendo este um dos requisitos que considero essênciais para a consistência e solidez de um blog. O blog do professor e diácono da nossa diocese Fernando Martins é seguramente disso exemplo. Como ele próprio afirma, o “PELA POSITIVA vai continuar a apostar, numa actualização permanente, à medida das minhas forças. O respeito pela linha definida desde a primeira hora será sempre seguido”. Posso assegurar-vos que efectivamente é verdade, dado que acompanho este projecto já há alguns anos e é claramente uma das minhas paragens habituais, quando navego pela blogosfera.

sábado, 3 de outubro de 2015

Crises geram solidariedade

Texto publicado em 2012

A família está em mudança com a crise, 
a tecnologia, a indefinição na educação. 
Desafios e oportunidades.

Família numerosa

“Com as crises a vários níveis e nos mais diversos setores, a criança acaba por ser o elo mais fraco” na conjuntura atual, garantiu Paulo Costa, vereador da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) e presidente da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens), no II Encontro promovido por aquela organização de âmbito concelhio, que se realizou na sexta-feira, 12 de outubro, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, para debater os “Novos Desafios e Oportunidades para as Famílias em Mudança”.
Paulo Costa adiantou que foram abordados temas pertinentes sobre o “impacto dos novos modelos de família na vida da criança”. Trata-se de uma ação, esclareceu, que “nos prepara para atuarmos com mais consistência e saber nas nossas comissões”. E sublinhou: “Abordámos os novos conceitos de família, o divórcio, a emigração e imigração, tudo o que está a mexer com aquilo que é a estrutura tradicional da nossas famílias.”

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Ria em festa com Senhora dos Navegantes — 2015

Nossa Senhora dos Navegantes

Como manda a tradição, realizou-se na Gafanha da Nazaré, em 20 de setembro, a festa em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes, venerada há muito pelos que labutam nas ondas do mar e nas águas por vezes tumultuosas da laguna aveirense, mas também pelos seus familiares e amigos. Não haverá por estas bandas quem não tenha, direta ou indiretamente, alguém envolvido nas lides marítimas ou da ria. Daí o interesse natural por esta festa que, antigamente, se celebrava na segunda-feira depois da festa da Senhora da Saúde na Costa Nova, que ocorria no domingo.
Com a procissão lagunar, instituída em 1976 pelo saudoso Padre Miguel Lencastre (ver Postal Ilustrado na última página), os festejos saíram enriquecidos, atraindo, por isso, inúmeros devotos, curiosos e demais pessoas que apreciam a Ria engalanada com barcos e barquinhos enfeitados e cheios de gente de todas as idades. Este ano, com céu limpo e temperatura amena, sem grandes ventos e com muita alegria, o prazer da viagem que ligou o porto bacalhoeiro ao Forte da Barra saiu beneficiado. E a passagem por São Jacinto, que associa a Senhora das Areias, com devoção e espírito de fraterna amizade, à Senhora dos Navegantes, representa, indubitavelmente, uma mais-valia a preservar.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os gafanhões vistos por outros

Um gafanhão, cujo nome desconheço

Não podemos ignorar que os primeiros povoadores destas dunas eram pessoas simples, pouco ou nada afeitas a letras e leituras, muito menos a qualquer tipo de cultura académica. O seu saber era de experiência feito, à custa de muita labuta de sol a sol. Viviam do que cultivavam, porque não havia dinheiro para compras fora da terra que iam conquistando, palmo a palmo, adubando as areias estéreis com o suor que lhes caía do rosto queimado pelo sol salgado da maresia.
Frederico de Moura, que foi médico em Vagos, escritor, político e homem da cultura, conhecedor profundo da alma e da determinação da nossa gente, em frases realistas, quais pedras preciosas buriladas, diz assim:

«O gafanhão — ou o avô do gafanhão — quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil.
«Não se foi a ela com a esperança do filho que se achega ao colo maternal e ao seio opíparo que destila o leite da humana ternura. Nada disso! Ao invés, investiu com ela como enteado que não espera da madrasta a carícia rica de promessas, nem a generosidade que dá o pão milagroso…
«Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança e quem irriga duna virgem sabe que mija numa peneira! Quem lança a semente num ventre que é maninho não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata com que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.

(…)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Linguajar dos Gafanhões


Desde que me envolvi no  mundo do ciberespaço, tenho mantido a preocupação de informar os meus leitores em geral e os gafanhões em particular sobre marcas da nossa identidade como povo que foi capaz de desbravar dunas inférteis, transformando-as em terras produtivas. 
Eu sei, todos sabemos, que a velocidade da história não dá azo a grandes preocupações sobre o nosso passado, tanto mais que o presente nos envolve e o futuro está aí apressado a convidar-nos à corrida para se atingirem metas impostas pelo progresso. 
Aqui ficam, pois, algumas considerações sobre os nossos antepassados, na esperança de que todos aprendam a concatenar os fios da história.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Padre João Gonçalves:

“O recluso espera sempre 
que a comunidade lhe perdoe”



“O recluso espera sempre que a comunidade lhe perdoe e precisa de se sentir perdoado, para reiniciar nova vida”, sublinhou ao SOLIDARIEDADE o padre João Gonçalves, Coordenador Nacional da Pastoral das Prisões. E na cadeia, espera fundamentalmente que o capelão e os visitadores “o escutem e o respeitem como pessoa”, mas também que “lhe transmitam o sentido da esperança”, ajudando-o a reconciliar-se consigo mesmo e com os outros e dando-lhes, ao mesmo tempo, “tranquilidade e paz”, frisou.

O padre João Gonçalves, pároco da Glória (Sé de Aveiro), tem um longo e rico currículo como capelão do Estabelecimento Prisional Regional de Aveiro, com cerca de 30 anos de serviço. Há pouco mais de um ano, foi nomeado Coordenador Nacional da Pastoral das Prisões pelo ministro da Justiça, mediante proposta da Conferência Episcopal Portuguesa. Com plena consciência das tarefas enormes que o esperam, sabe que tudo será mais fácil se a sociedade der uma ajuda, tanto na prevenção da criminalidade, como na reinserção dos ex-reclusos. 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Movimento de Schoenstatt

Texto de Isabel Tavares no jornal I de hoje, 17 de fevereiro...

...Da  teoria à prática, com Jesus na ordem do dia...


Marcos e Raquel, casados, Rita, a aguardar a decisão final sobre a anulação de um casamento, e João Pedro, a terminar a faculdade. Mingas, a representante da juventude feminina, não pôde, à última hora, estar presente. Só leigos e nenhum sacerdote, por incompatibilidade de horários. Mas, por telefone, o padre José Melo, coordenador das actividades do Movimento de Schoenstatt, viria a explicar que estava muito bem assim, porque "estrutura não é piramidal, é federativa".
E depressa se percebe que, sem uma hierarquia vincada, este tipo de estrutura é uma das marcas-d'água da instituição, um dos movimentos católicos mais elitistas e por muitos considerado ultra-conservador. Riem-se os quatro quando pergunto se estão de acordo e, à laia de brincadeira, lhes peço os apelidos: Frescata, Fontoura e Duarte. A intermediária do encontro é Rocha e Melo. Coincidência. Acontece que o santuário de Lisboa, à volta do qual se realizam todas as actividades, foi construído no Restelo, uma zona nobre.
Muito mais a sério, explicam que para se construir um santuário não basta ter dinheiro, é preciso haver vida. E, quando uma comunidade sente que está preparada, então sim, ergue um altar. A ideia é que é Nossa Senhora quem escolhe onde e quando. O Santuário do Restelo foi erigido em 1974 e os pais de Marcos foram membros fundadores. Mas há mais três: em Braga, Aveiro e no Porto, por acaso no Canidelo, na margem mais pobre do rio Douro.
"Há uma ideia errada sobre o movimento", dizem. E João Pedro, que está na juventude masculina, é o primeiro a concordar e a desmistificar. Já conhecia Schoenstatt, pelos amigos e pela irmã. "Via-os num grupo de vida, muito felizes, e não percebia bem. Aos 18 anos decidi dar uma hipótese e experimentar." Até hoje. Mas não o fez antes porque "tinha um preconceito, que muita gente tem. Achava que era um movimento muito fechado, pouco acolhedor. E é tudo ao contrário", conta. "Nem é preciso pertencer a um dos ramos [ver caixa], basta vir a uma missa para perceber isso."
E foi este acolhimento que atraiu Rita, a representante do grupo das mães. Ao contrário de João Pedro, que está "tão bem aqui" que não quer "experimentar outros movimentos", Rita já passou por diversas experiências, dos Jesuítas ao Comunhão e Libertação. Não só por ser mais velha, mas porque tem quatro filhos, entre os 16 e os 24 anos, e cada um escolheu o seu caminho, todos católicos.
"Tinha influências mas nunca me vinculei a nenhum movimento. Casei, tive filhos e sempre gostei de conhecer as várias possibilidades, mas nunca os empurrei para lado nenhum." Um dia uma amiga desafiou-a para a peregrinação a Fátima, que Schoenstatt realiza todos os anos, e foi. "Inscrevi-me sem dizer se tinha preferência por algum grupo e fiquei num em que não conhecia quase ninguém", lembra. "Mas as pessoas interessam-se genuinamente pelo outro, sobretudo se estiver sozinho." Pouco depois formava-se o grupo de mães. "Schoenstatt é um movimento de liberdade, interior e exterior."
Marcos, baptizado no santuário aos 15 dias, explica: "A ideia é cada um encontrar o seu espaço de crescimento mais profundo. Há lugar para todos." E esta dimensão é importante, ter espaço para acolher. "Os grupos nascem espontaneamente pela necessidade de receber uma pessoa concreta que encontra em Schoenstatt o seu caminho", diz. Depois cada grupo cria vínculos e uma unidade que o ajuda a crescer.
Marcos é convicto nas suas crenças, tanto que pouco dias depois de ter pedido Raquel em namoro já lá vão perto de dez anos, ela estava no movimento, a ajudá-lo a organizar a peregrinação a Fátima. Hoje já fazem os dois parte do grupo das famílias.
"Em Fátima, por exemplo, não há um santuário, o que pode parecer estranho, porque o nosso carisma é mariano", afirma Raquel. Para logo concluir que é assim "porque não há um grupo de pessoas que gere vida. E é na medida em que há vida que as coisas acontecem".
E é também Raquel quem responde, enquanto embala o carrinho da pequena Madalena, à acusação de que movimentos como Schoenstatt estão a roubar fiéis e vocação à igreja diocesana. "Queremos ser vistos como fonte de integração. Não podemos ver estes movimentos como algo que tira, mas como algo que acrescenta."
Rita acrescenta que é bom olhar para a Igreja e ver uma quantidade de leigos com um papel tão activo. É verdade que há padres que se queixam que lhes estão a roubar fiéis, mas se calhar "nas paróquias não são acolhidos assim". E logo acrescenta que o movimento é um extra no crescimento espiritual de cada um. Ela própria está a formar na paróquia de Santa Maria de Belém um grupo de visitas a reclusos, "porque o chamamento foi lá".
João Pedro sabe que esta crítica é real. Na comunidade dos Olivais, um padre chegou a perguntar-lhe o que é que a diocese poderia fazer para imitar os movimentos e cativar mais jovens. Mas não está de acordo com a condenação. "Penso que se não fossem os movimentos, muitas das vocações que existem não seriam descobertas. Por exemplo, os padres de Schoenstatt poderiam nunca ser padres por não sentirem o chamamento ou os fiéis poderiam nem sequer frequentar missa nenhuma".
De facto, a Igreja diocesana diz que está a envelhecer e o Movimento de Schoenstatt está cheio de gente nova. "Talvez não tenham gerado vida necessária para cativar as pessoas. É a Igreja, no seu seio, que tem de perceber o que perdeu em dado momento que deixou de atrair as pessoas", remata Raquel.

P&R

"São os diversos caminhos que agregam a Igreja"

Como aplica o carisma do movimento à Igreja de hoje?
Todos são chamados a participar. A vida da Igreja tem de ser cada vez mais assumida pelos leigos. Antes os leigos eram mais passivos e os padres é que eram activos. O que é necessário é que cada um tenha o desejo íntimo de construir na sua vida um caminho de santidade, que aqui é apoiado em Nossa Senhora. Cada um deve encontrar o seu carisma, são maneiras diferentes de estar, mas o mesmo objectivo. Mas temos muitas pontes com o patriarcado, o trabalho que fazemos não é um substituto, é complementar.
O proselitismo de Schoenstatt disputa território com a Igreja?
A riqueza da Igreja é a diversidade. Muitos vêm à missa aqui, mas a maioria vai à sua paróquia. Mas muitos encontram aqui o seu carisma. A missão é contribuir para a diocese, para a Igreja como um todo. São diversos os caminhos que agregam a Igreja. Faz parte da nossa missão, como membros do movimento, estar dentro da Igreja, na sua estrutura, e não ser um grupinho à parte.
Como vivem os escândalos da Igreja? É importante perceber que também dentro da Igreja há um caminho a fazer e que existem coisas que não são coerentes, que têm de ser trabalhadas e purificadas, porque somos humanos. Dentro da instituição que formamos também há pecadores. A noção da Igreja terrena, muito humana, é importantíssima.
O que pensa do projecto de reforma do Papa Francisco?
A reforma era tão necessária que é um desejo profundo e quase transversal à Igreja. E depois esta porta de renovação transformadora que o Papa veio trazer e todas as linhas que estão a ser traçadas vêm muito ter com aquilo que é a nossa forma de estar. É uma fonte de esperança.

MANUAL DE INSTRUÇÕES

HISTORIA

No dia 18 de Outubro de 1914, o padre José Kentenich propôs a um grupo de jovens consagrarem-se a Maria. Estabeleceram-se numa pequena capela abandonada, transformando-a num lugar de graças e de peregrinações, e comprometeram-se a oferecer a Maria uma intensa vida de oração e o esforço por viver a santidade na vida diária. Schoenstatt [lugar bonito] é um lugar em Vallendar, na Alemanha, e é lá que está o santuário original.

OS LEIGOS

Existem diversos ramos ou ligas para desenvolver vocações específicas no compromisso apostólico:
Famílias;
Juventude, dividida em juventude masculina (Cruzados, Pioneiros e Universitários) e juventude feminina (Apóstolas de Maria, Aliadas e Universitárias);
Mulheres, onde estão, por exemplo, as mães
Homens

VIDA CONSAGRADA

Os Institutos são parte motriz e asseguram a vitalidade interior e a projecção apostólica. Alguns membros destas comunidades têm como tarefa central o serviço directo a Schoenstatt. Denominam-se Institutos Seculares e têm uma característica própria: vivem segundo os conselhos evangélicos, mas sem votos (por esse motivo, canonicamente, não são integradas na comunidades religiosas). O vínculo jurídico estabelece-se através de uma "consagração - contrato". Comunidades de vida Consagrada:
Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt (1926)
Instituto dos Irmãos de Maria (1942)
Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt (1946)
O Instituto de Famílias de Schoenstatt espera reconhecimento pelo direito canónico. O Instituto dos Irmãos de Maria é de direito diocesano, os outros de direito pontifício

SACERDOTES

O Instituto Secular dos padres de Schoenstatt foi fundado para ser parte central e motriz da obra de Schoenstatt. Nesse sentido, o serviço permanente ao movimento é uma referência para a sua missão. É uma comunidade de direito pontifício, tem também direito próprio de incardinação. Os sacerdotes diocesanos também fazem parte da família de Schoenstatt, unidos pela sua espiritualidade e por uma vivência comunitária. Estão plenamente inseridos nas suas dioceses e encontram no carisma de Schoenstatt uma ajuda para a sua santidade. Os diversos grupos e comunidades de padres diocesanos em Schoenstatt, ou mesmo individualmente, constituem-se segundo o grau de envolvimento e compromisso comunitário, ascético e apostólico (no sentido de Schoenstatt). Comunidades de sacerdotes:

Instituto Secular dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt (1945)
Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt (1965)
União Apostólica dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt
Liga dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt (1966)

OS HERÓIS

Max Brunner, que teve um papel de liderança, especialmente na secção de missões. Hans Warmer, membro fundador da Congregação Mariana. José Engling, membro fundador: o seu processo de beatificação decorre na diocese de Treves, na Alemanha. Gertraud von Bullion, a primeira mulher a ingressar no movimento, co- -fundadora da coluna feminina. Fritz Kúhr, formado em Direito e Economia, estudou, simultaneamente, Teologia, tornou-se o primeiro noviço do Instituto de Famílias de Schoenstatt. Franz Reinisch, austríaco, foi o único presbítero católico executado no Terceiro Reich por se ter recusado a jurar bandeira a Hitler. Carlos Leisnerner, o primeiro membro do movimento a ser beatificado, em 1993. Pe. Albert Eise, a quinta cruz negra no santuário original, pertenceu aos congregados e à geração fundadora da obra. Irmã M. Emilie Engel, participou na fundação do Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt e foi mestra de noviças. Mário Hiriart, nasceu em Santiago, no Chile, e ingressou no movimento como membro da Juventude Masculina de Schoenstatt. Bárbara Kast, membro. João Luiz Pozzobon, ordenado diácono permanente

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quinta-feira, 3 de julho de 2014

SANTA MARIA DE VAGOS



Falar de férias nos dias de hoje, sobretudo para quem não tem emprego ou vive de ordenados baixos e incertos, pode parecer ofensivo, mas não é essa a nossa intenção. O que se pretende é sugerir a todos os que puderem e quiserem uma peregrinação ao Santuário de Santa Maria de Vagos, localizado numa zona aprazível, durante um domingo ou mais. Para o nosso povo, esta peregrinação poderá revestir-se de uma visita às raízes gafanhoas, com matriz especial nas terras vaguenses.
Ali, entre o arvoredo abençoado pela Senhora de Vagos, ao longo de tantos séculos, será possível confraternizar em família ou em grupos mais alargados, “conversar” com Nossa Senhora o tempo que desejarem, petiscar uma merenda previamente preparada sem grandes gastos, registar a iniciativa em espontâneas fotos, lembrar tradições de que andamos, talvez, um pouco afastados. Depois, o regresso mais desanuviados do stresse dos nossos quotidianos. Para ajudar, deixo aqui umas notas.


Das Lendas

Diz o padre Domingos Rebelo dos Santos, antigo prior da Gafanha da Nazaré, no seu livro “O Culto a Maria na Diocese de Aveiro”, que a história de Nossa Senhora de Vagos está ligada ao mar. «Segundo a tradição, a imagem primitiva (dos finais do século XII ou princípios do século XIII) veio de França. Um navio deu à costa onde se despedaçara, e o capitão, na operação de salvamento, conseguiu trazer para terra uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que o acompanhava. Escondendo o seu tesouro, foi junto da população próxima, Esgueira, pedir ao pároco que lhe desse um lugar condigno na sua igreja.»
Depois, acrescenta a lenda, perdeu-se o rasto da imagem… acabando por não ir para Esgueira.
Da lenda, ainda se sabe que a D. Sancho I, estando em Viseu, «lhe aparecera a Senhora em sonhos e lhe ordenara que fosse a determinado lugar onde acharia a sua imagem, e que no mesmo lugar lhe edificasse uma capela…
«O rei terá vindo sem guia e, com toda a facilidade, terá encontrado a imagem como a vira em sonho. Mandou construir a capela e juntamente uma torre para defesa dos que assistissem à Senhora.»


Da História

Certo é que, «antes de 18 de Agosto de 1200 a capela estava construída, pois nessa data o rei D. Sancho I doou-a ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, conforme documento coevo».
A construção do Santuário data do século XVI, mas o aspeto global, atual, vem de remodelações efetuadas ao longo do século XIX e XX. A torre sineira foi construída em 1960. A imagem de Santa Maria de Vagos, de calcário, é do século XIV.
Outras obras continuaram e hão de continuar, porque as peregrinações se mantêm vivas, englobando sempre grande número de fiéis, um pouco de todo o lado.
A Senhora de Vagos, como é hábito evocar a Mãe de Deus no seu santuário em terras vaguenses, tem sido conhecida por outras designações, através dos séculos e conforme a evolução doutrinária e litúrgica.
Lembra o padre Manuel António Carvalhais, no seu livro “Santa Maria de Vagos”, que «todos os documentos escritos, desde Abril de 1190 a 22 de Fevereiro de 1505, registaram invariavelmente que nesta ermida ou igreja é venerada SANTA MARIA DE Vagos». Contudo, ao longo dos tempos, tornou-se conhecida por Nossa Senhora de Vagos, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Bodo e, até, Nossa Senhora das Cerejas. Estas duas últimas designações prendem-se, naturalmente, com razões especiais, a saber:
1 — Nossa Senhora do Bodo, numa clara alusão ao «antiquíssimo costume sustentado pelos peregrinos de Cantanhede de contemplar cada pobre que participa na festa, com quase meio quilo de carne de vaca cozida, pão e meio quartilho de vinho», como refere o padre Carvalhais.
2 — Nossa Senhora das Cerejas, por ser esse o fruto mais apetecido e mais procurado na festa, que se celebra na segunda-feira a seguir ao domingo de Pentecostes. Trata-se, por isso, de uma festa móvel, dependente da celebração da Páscoa (Domingo a seguir à Lua Cheia, depois de 21 de Março — Equinócio da Primavera —, o que dá um domingo entre 22 de Março e 25 de Abril).

Das Peregrinações

Tanto quanto se sabe, os peregrinos de todos os dias vêm, sobretudo, das freguesias do concelho de Vagos. E depois dos concelhos vizinhos, nomeadamente de Ílhavo, Mira e Cantanhede.
Os de Ílhavo, em especial das Gafanhas, pela ligação ancestral a Vagos e à Senhora de Vagos. Curiosamente, ou talvez não, as Gafanhas assumiram Nossa Senhora como sua padroeira, como é sobejamente sabido, com diversas denominações: Nazaré, Encarnação, Carmo e Boa Hora. O padre Rezende diz, na “Monografia da Gafanha”, que «o povo da Gafanha, desde épocas remotas, vai em novena à Senhora de Vagos», como a outros santuários, aliás. E os menos jovens ainda recordam essas novenas e a atração que a peregrinação anual despertava. A serenidade do lugar, amplo e convidativo, com a bênção da Mãe de Deus ali instituída há séculos, será motivo para tal predileção dos devotos.
Menção especial merece o povo de Cantanhede. O padre Carvalhais sublinha que, «atualmente, na segunda-feira imediata à Solenidade do Espírito Santo, cerca de duas centenas de pessoas mantêm ainda a tradição mais funda de percorrer a pé os trinta quilómetros que separam Cantanhede de Vagos, por um itinerário distinto do dos seus antepassados». Outros se vão juntando pelo caminho ou se dirigem para o santuário da Senhora de Vagos. Todos depois participam na festa litúrgica. E adianta o autor do livro “Santa Maria de Vagos”: «À tarde, após a recitação do Terço no recinto do Santuário, o pároco procede à bênção do Bodo que consiste exclusivamente na entrega de pães de trigo, confecionados em casa dos ofertantes ou em padarias locais, repartidos por cada romeiro cantanhedense em número igual ao das pessoas da sua família». Entre outras razões, da ordem da fé de cada um e de uma comunidade, aponta-se o agradecimento do povo de Cantanhede à Senhora de Vagos pelo benefício de «alcançar água no tempo em que não chovera sete anos», sendo esta «a antiguidade e privilégio que aqui é mais memorável».


Fernando Martins

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